segunda-feira, 2 de março de 2009

O mito é o nada que é tudo


No próximo sábado, 7 de Março, os membros do Conselho Geral recebem as cópias das candidaturas a reitor a UBI. Começa, então, uma das suas missões mais importantes: analisar o Curriculum Vitae e o Plano de Acção de cada um dos candidatos e, depois, auscultá-los publicamente diante toda a Academia. Como é óbvio, finalmente, só os Conselheiros é que decidirão, de forma livre, independente, no segredo da sua consciência, quem será o nosso próximo Reitor. É isto que se espera de cada um deles. Mas tal não significa, pelo contrário, que o devam fazer de costas voltadas para o sentir da Academia.

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Conheci o Prof. António Carreto Fidalgo, em 1989, numa aula, na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Desde o primeiro momento impressionou-me o grau de rigor e de exigência que punha nas suas aulas: logo na primeira, fui chamado ao quadro, onde tive de explicar, perante os meus colegas, um texto particularmente difícil. São daqueles momentos que nos matam ou nos fazem viver. Acabado de chegar da Alemanha, o Prof. Fidalgo logo começou a ser conhecido entre os nós pelo nome de ‘Fritz’. E já então era famosa a sua boina.

Aos poucos, além da acribia científica, do rigor intelectual e da exigência moral, consigo e connosco, fomos começando a conhecer, sobretudo no âmbito de Seminários, outras facetas do Professor, do Homem e do Amigo dos seus alunos: o homem livre e sem meias tintas, que em tudo fomentava a nossa própria liberdade para investigar, falar e intervir; o melómano inveterado, amante de Bach, frequentador do São Carlos e da FCG; o leitor de Lutero, de Kant, de Dostoiesvki ou de Herman Hesse, que nos dava a conhecer obras de que nunca tínhamos ouvido falar; o conversador e amigo de uma boa discussão, mormente à volta de uma mesa de petiscos, ali, numa tasca do Cais do Sodré ― discussão amiúde temperada com uma franca gargalhada renana e, à mistura, cum grano salis, alguma socrática ironia; o homem de sólida cultura; o curioso dos computadores in statu nascendi; o amante da matemática, o homem de fé… Paulatinamente, com um ‘scholar’ que tinha a Universitas na massa do sangue, íamos compreendendo que a Universidade não esgotava a Vida, mas nela podia encontrar um espaço privilegiado de abertura a tudo quanto é humano.

«Curiosamente, quando cheguei à Covilhã, bastantes anos mais tarde, compreendi que havia na UBI um mito Fidalgo que, quiçá temeroso de ‘ser chamado ao quadro na primeira aula’, se fixara na faceta do duro, glacial e inflexível Fidalgo. Ora, como diria F. Pessoa (Mensagem), “o mito é o nada que é tudo” e assim, “nas calhas da roda”, foi alastrando, alastrando... E como o mito Fidalgo, adejado nesta ou naquela circunstância qual bicho-papão, perante docentes, funcionários ou alunos, tanto jeito tem dado a alguns!

Mas é tempo de “querer passar além do Bojador”, de divisar latitudes outras para lá da Gardunha, de espelhar no céu novos mares: ver além do
Mythos e configurar a realidade. UBI, faz-te ao largo! É Hora!»


José Rosa
(Departamento de Comunicação e Artes)

1 comentário:

  1. Excelente Texto. Parabens!
    A escolha do Reitor tem que ser mais do que a simples análise de programas que quiçá se bem exprimidos dirão todos o mesmo, mais investigação, melhores serviço, blá, blá e mais blá, blá isto é mais coisa menos coisa. Mas cá estaremos para ver, isto se os Conselheiros tiverem o bom senso de disponibilizar online toda a documentação entregue.

    O conhecimento das personalidades dos candidatos, as provas dadas em cargos de gestão anterior ou a forma menos correcta como os exerceram, a frontalidade com que encaram os problemas e os assumem terão que ser factores a ter em conta pelos Conselheiros na hora da scolha..

    Textos como este que dão a conhecer melhor os candidadtos são muito bem vindos. Não apenas para esta candidatura em particular mas para ao que consta as demais três.

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